quinta-feira, 25 de novembro de 2004

Banda Calypso: acode, Jeová!

Joelma e Chimbinha estão por toda parte. Em qualquer lugar que você esteja aqui, nas redondezas no Pará, eles estão, estiveram ou estarão lá. É um fenômeno. Do demônio, é claro.

Os Puteiros

As casas de prostituição da cidade de Altamira são bastante famosas. Segundo fontes seguras, o "Xiri Molhado" traz uma promoção toda quinta feira: com a aquisição da chave luxo, se ganha uma dose de uísque Natu Nobilis e meia hora extra com a vagabunda. Quando soube das peripécias da concorrência, a casa "Curral das Éguas" já lançou a campanha: "leve um litro de Natu Nobilis e ganhe uma chupetinha molhada". No "Quenga's Julia Drinks" o cliente leva duas pipiras e só paga uma - desde que compre uma garrafa de uísque vagabundo para acompanhar a farra.

De acordo com meu entrevistado, o pior açougue é a "Dinheiro Na Mão, Calcinha no Chão Drinks". O estabelecimento é dono das morcegonas mais feias da região tranzamazônica. Mais: o dono da casa é um travesti velho que dá deconto para os clientes que encarem o quarto da bicha. Mas tudo com muito respeito.

terça-feira, 23 de novembro de 2004

Diálogo entre irmãos

[Meu irmão corrige provas na mesa. Ele é professor de matemática]
- Ricardo, você só está dando notas vermelhas. Não se sente fracassado?
- Não. É proposital. Como terei de dar aula até o final de dezembro, farei com que todos fiquem de recuperação porque essa turma precisa de reforço. É fraca.
- Entendi. Mas coitados...
- Coitados nada. Esses alunos são muito burros. Esse aqui mesmo [me mostra a prova do muleque]vai virar marginal. Não tem jeito. Tenho certeza.
- Mas seu papel é fazer com que isso não aconteça. Você não pode pensar no seu diploma de professor só como forma de garantir seu salário. Você tem de assumir o papel de ajudar a sociedade.
- Mas Gleyson, fui chamar a atenção dele uma vez, ele jogou o apagador em mim e disse que nossa mãe tinha pêlo no rabo.
- Reprova o filho da puta!

Tipo assim... incrível !

Tô aqui. No mesmo Bat-Cyber xinguzinho. No mesmo Bat-computador. E sabe quem está aqui comigo? O mesmo Bat-filho-da-puta com o mesmo Bat-som alto de hino de igreja! Não é lindo?! Não é de DEUS? Acabo de virar para ele, fiz o sinal de jóia e disse:"Sucesso!". Constrangido, o moço abaixou o som. Porque ninguém é obrigado, não é mesmo, pessoal?!

As coisas aqui vão muito bem. Se antes eu estava preto, agora já tô azul. Neste final de semana fui para uma fazenda num travessão da Rodovia Tranzamazônica, que não é asfaltada. Como eu sou um moço muito corajoso e destemido, fui de moto. Cinqüenta quilômetros e duas horas depois, eu chego parecendo uma múmia: cheio de poeira. Era tanto pó na minha cara, roupa, que eu parecia ter acabado de cavar um poço. Foi divertido. Como tudo aqui.

Com os amigos, me joguei na cachoeira. Parecíamos crianças. Foi um dèjavu absurdo. Embora nossa turma tenha entre 24 e 28 anos, a maioria casado e com filhos, fizemos as mesmas coisas que fazíamos na adolescência. Subimos em árvores e pulávamos no rio. Todo mundo PELADO. Ahahaha! Um jogava lama no outro. Um apostava nado de uma margem a outra do rio. Pensei que não seria assim. Imaginei que, como já estávamos adultos, as coisas esfriariam. As pessoas estariam mais responsáveis, com pudor à flor da pele. Nada. Tudo como antes.

Voltei de alma lavada. Fiz fotos com papagaio (que me atacou e rasgou minha mão inteira), com um filhote de veado-mateiro de 8 meses, e com as crianças da roça. Puxa, me sinto tão impotente em não saber como postar essas fotos (umas 500 somadas). Mas quando eu chegar aí em Sampa, posto. Prometo.

Na sexta vou à praia. De novo. Volto no domingo. Desta vez será numa ilha inédita. Será um grande evento. A turma que já confirmou presença é bem maior que a anterior. Esta é a última praia do ano já que o Rio Xingu já está enchendo, cobrindo a maioria das ilhas. A época de chuvas começou a todo vapor. A seca do rio acontece de junho a novembro.

terça-feira, 16 de novembro de 2004

Rapidinhas

* O jornalismo local é uma piada. As três emissoras de tv afiliadas, Globo, SBT e Record, têm seus telejornais altamirenses. Produções mambembes, recheadas de pérolas. Ontem mesmo o repórter anunciava a inauguração de um restaurante "serve-service". No mesmo horário, sua colega, da emissora concorrente, entrevistava um ladrão de bonés(!).

- Porque você roubou o boné?
- Prá ficar presença!
- E agora você está preso. Por causa de um boné...
- Mas eu roubei uma caixa de Duelo [marca de cachaça] também.

* A violência aqui é absurda. Por qualquer coisa se mata. De facão, de peixeira, de tiro (espingarda, revolver...). Desde que estou aqui, dezenas de pessoas foram assassinadas. Cerca de 4 delas, conhecidos. Daquelas que se cumprimentam na rua. Eu não sei como ainda tem gente viva aqui.

* A cidade é vermelha. O barro solta um pó fino impiedoso com o calor. Tudo é sujo. Tudo é encardido. Tudo é vermelho. Por mais que a maioria das ruas sejam asfaltadas (a da minha casa foi pavimentada no início do ano!) a poeira é infernal. A tela do micro aqui tá uma vergonha.

*Além de "mucura", outro nome que designa àquelas desprovidas de beleza e sensualidade é "pipira" - nome de um pássaro preto feio do bico prata. Ouve-se sempre: "Lá vem os pipirão!"

* A mãe de Flayra mandou um beijo a todos.

Flayra, parabéns pelo seu sucesso!

Tô Preto. Tô feliz !!!

O que são as férias, não é mesmo, minha gente? Férias não, licença. Se eu tivesse tirado férias, não receberia enquanto não trabalhasse. Com licença é diferente. Eu recebo cada centavo. É o famoso truque. Parabéns pelo meu sucesso!
Eu tô preto. Bronzeado até o último fio de cabelo. Aqui está uma delícia.

Agora estou num cyber-xinguzinho. É uma sala com ar condicionado com alguns computadores. Tem coxinha aqui também mas não tem café. Mas tem guaraná Xingu que é o sabor da alegria. Diz. Uma garrafinha com 250 ml custa 0.75 centavos. A embalagem é linda. Fiz fotos. "Moça, me traz um xinguzinho!". Já tomei três. É bom.

Tem uma desgraça de uma peão aqui do lado que está ouvindo hino evangélico na maior altura. Caralho, tem fone de ouvido aqui. Porque ele não usa? Ele deve achar bonito. Só pode. Pronto. Tô fudido. Agora o filho da puta está cantando a letra junto. Vou jogar as garrafinhas de xinguzinho nele. Jesus não é surdo, porra!

Neste final de semana fui à praia - uma ilha com pontal de areia no Rio Xingu a 2h de barco da cidade. Fiz 200 fotos só neste local. Lindo, lindo, lindo! A pedida foi lual à base de cerveja com muitos cigarrinhos idonésios. O pior é que eu não bebo e nem fumo. Mas eu fiz tudo isso e achei muito bonito. Fui dormir às 5h e acordei às 6h. Dormi de rede. Amarrada na árvore. O desgraçado do meu irmão havia emprestado a barraca lá de casa e eu me fodi. Vi o por do sol. Sol laranja enorme nascendo atrás das demais ilhas. Fotografei também.

Na agenda desta semana estão a visita à uma caverna e uma cachoeira. Trilhas de 5km. Vou dormir na mata, mas, desta vez, de barraca. Tenho muito medo de pegar malária. Antes de voltar para São Paulo, o que deve acontecer na primeira quinzena de dezembro, farei os exames. Só há tratamento para a doença aqui, na região norte do país. Se eu for infectado para o sudeste, terei de voltar pra cá. Tudo. Olha o truque.

segunda-feira, 8 de novembro de 2004

Satisfação

Consegui chegar. Estou aqui bronzeado já. O teco-teco posou no aeroporto às 22h de sexta. Fiquei essas horas todas de castigo em Belém. Nem consegui conversar com minha mãe ainda. Todo mundo passa lá em casa e me carrega para um canto. E eu como sou cachorro-sem-vergonha, vou para tudo e com todos.

Ontem eu fui à casa de uma amiga de infância. Ela apresenta o jornal local na tv aqui. Conheci a bebê dela. A criança foi batizada como Flayra, com base na mitologia baiana. Mas eu nem disse nada. Fiquei quieto. Respeito, sabe. O engraçado é que as crianças aqui já nascem bronzeadas.

Sou celebridade aqui. É chato. As pessoas ficam me olhando, dando sorrisinhos. Já até perguntaram se sou ator. Eu disse que sou "à toa". Hj é dia de cais do porto. Mais uma vez. To me matando de comer. Fiz váaaaaaaarias fotos mas naum sei como postá-las ainda. Depois conto mais detalhes.

sexta-feira, 5 de novembro de 2004

Belém, 42º

HOT HOT HOT !!! Gente, tô aqui. Fudido e morto de ódio. Cheguei aqui nesse inferno, termômetros oscilando entre 35º e 42º. Um calor dos diabos. Ao chegar na loja do vôo Belém - Altamira de hoje às 18H, a surpresa: o vôo foi CANCELADO. Caralho de Buceta.
Remarcaram para às 21h30 e acredite: CANCELARAM de novo. Meu cu rosa.
Agora, só amanhã às 6h da matina. Diz. Eu tô com tanto ódio que tô até tremendo aqui.
Neste momento estou no shopping Castanheira - uma versão shopping Penha pobre. Me joguei na Colcci - única loja de grife aqui nessa porra, e gastei 300 dinheiros. Pagamento à vista. Rico! Tô me sentindo melhor. O barato de tudo é ser assediado pelas bichinhas paraenses lojistas. E nem confiança.
Eu pareço um ser de outro mundo aqui. To adorando tudo isso. Todos me olham, me querem, desejam meu corpo. Já ganhei váaaaarios psius hoje. Uma coisa. Mas eu tô insuportável mesmo hoje. To bonito, to sensual. Ahahaha.
Já já tô indo de volta pro Aeroporto. Vamos ver o que aquele cu de Meta Transporte Aéreos (uma das únicas que fazem a rota Altamira) resolveu. Ou não.
Ah, comi a tal da manisoba hoje. Horrível. O troço é amargo pra caralho. Mas o frango no tucupi estava uma delícia.
Mais: estou empanturrado de sorvete de murici e cupuaçú. Caros, mas maravilhosos.
Pronto, desabafei. Deixa eu ir resolver minha vida. Tô ouvindo a trilha de Pocahontas no discman.

Cronograma

É madrugada. Não vou mais dormir. O vôo é já já. Partirei ás 7 da matina para Belém. Logo, tenho de estar em Congonhas às 6h. Chegarei na capital paraense às 11h30 (12h30 SP - o Pará não está incluso no horário de verão). O vôo de Belém - Altamira sai às 18h30 (19h30 em SP). Serão longas horas de espera. Revista Coquetel para passar o tempo? Peeeeeeeeeeemmmmp !!!! Resposta errada. Preparei um cronograma sapeca, serelepe e espoleta. Veja:

Irei a um lugar muito único e exótico: o shopping. Preciso comprar bermudas, meias, cuecas e regatas. Não deu tempo de resolver tudo hoje. Viva o cheque especial. Sabe, eu tenho muito dinheiro!

Restaurante Teta de Búfula: lá é onde vou me jogar nos sorvetes de murici, cupuaçú e açaí. O de tapioca não. É ruim. Tem gosto de calcinha azeda. Mas antes disso tem a moqueca de siri (de água doce) que é um pitéu. Se tiver manisoba, encaro.

Mercado Ver o Peso: preciso visitar o maior mercado de especiarias e ervas medicinais. Uma amiga me encomendou uma garrafada de "boceta de boto". É afrodisíaco, diz. Deve-se tomar o caldo do xibiu do mamífero para ficar bonito e sensual.


"Vai chupar jeba de jegue, caralho!"

Pronto. Estarei satisfeito se cumprir a metade desses programas. A passagem no restaurante é fundamental. Não poderei comer muito pois, lá em casa, em Altamira, terá uma moqueca de tucunaré ao leite da castanha me esperando. Se eu não comer, minha mãe vai enfiar o prato no meu cu.

Nota de falecimento

Sukita (peixe kinguio) não resistiu à emoção de minha viagem e resolveu morrer antes da chegada de seu babá, Max. Seu corpo ainda descansa em sua morada, onde é velado. O sepultamento será na privada. O Tietê é o paraíso.


Sukita parecia com este rapaz aqui.

quinta-feira, 4 de novembro de 2004

Memória: O Caso Leopardos

“Direto da novela ‘De Corpo & Alma’ para Altamira. Você vai enlouquecer com os ‘Leopardos’!!!!” A chamada estava no rádio. Na tv. Em toda esquina. Bocetas batiam palmas de ansiedade. “Caralho, os caras que tiram a roupa na novela, estarão mostrando o rabo cabeludo aqui. Uau!”, pensavam as menininhas.

A dupla era vendida como atores da novela global de Glória Perez. Suas cenas, diz, faziam parte do núcleo “Clube das Mulheres” da trama. E eles, definitivamente, se apresentariam no Xingu Praia Clube.


Luxo, Paixão, Cobiça e Sedução!

A balada bombou. Não se falava em outra coisa. No jornal da tv, me lembro ter visto os putos vestidos com trapos imitando tigres(!). Caras e bocas. Meninas gritavam. Mas o glamour passou como um foguete após a manchete na manhã seguinte: “Atores globais são detidos após roubarem empresário”. Fudeu !

Os michês furtaram talões de cheques do contratante após dormirem na casa da bicha. Foi um escândalo. E, para melhorar a fofoca, os “atores" estavam presos num posto policial da esquina da minha casa. Sensacional!

Me lembro de filas e mais filas de meninas na porta do cubículo para conhecer e receber autógrafos (!), beijos (!!) e abraços (!!!) dos oxigenados encarcerados. Cestas e mais cestas de almoço, lanche e outros agrados, eram deixados na porta da delegacia. Porra, eles eram celebridades! Presos em Altamira! Sucesso!

Com o tempo, o interesse pelos bandidos foi escasseando. Eles já estavam passando fome e, certamente, com os rabinhos arrombados pelos demais companheiros de cela. Foi quando uma amiga me chamou para ir lá conhecê-los. E eu fui.

Ao chegar lá, um dos ladrões pede para minha colega uma lata de goiabada. Eu só ficava de ponta de olho, com vergonha. Cristina me disse que, se eu arrumasse o solicitado para presentear o moço, ela foderia comigo depois. No auge dos meus treze anos virgens, não pensei duas vezes. O leopardo comeu a goiabada. Eu nunca comi Cristina.

Insônia

3h da matina e eu aqui, acordado, assistindo aos 40 clipes dos Pet Shop Boys. Está me dando um ódio, sabe!? Puta merda! Mas esquece. Estarei muito ocupado tomando "kapetinhas" (batida de amendoim) na Orla do Cais de Altamira.



Hoje, véspera da minha viagem, será um dia foda. Tenho milhões de coisas para resolver. Denise e Fábio serão babás de Amon-Rá e Sukeena. Acabo de receber um e-mail dos dois no qual pedia-se para que providenciasse uma roupa com meu cheiro. Para que os gatos se lembrem de mim. Diz. Já separei um moletom bem azedo.

Gisele já levou meu bonsai. Maria Tereza levou minha última gota de vodca. Juarez Navarro 2 (meu peixe beta) e Sukita (kinguio laranja) serão adotados, temporariamente, pelo Max. Antônio cuidará do meu dvd “Fui Seqüestrada. Por favor, Não Paguem Meu Resgate!” – um romance policial nacional.

Já lavei todas minhas cuecas. Espero que sequem a tempo. Todos os cds que participarão da aventura já estão empacotados. Sim, a trilha da novela Carrossel está inclusa no pacote. Porra, eu quero cantar com a professora Helena!

quarta-feira, 3 de novembro de 2004

Bye Bye Brasil !

- Chegamos. [suspirando] Altamira: a princesinha do Xingú.
- Que merda !

O diálogo foi travado entre os personagens de Fábio Júnior (Ciço) e José Wilker (Lorde Cigano) no filme Bye Bye Brasil de Cacá Diegues de 1979. As filmagens pararam a cidade de Altamira, no estado do Pará. Até hoje se comenta do porre, seguido de orgia, entre Betty Faria e operários locais que trabalharam na produção. Foi magia. Dizem. O filme acaba de ser lançado em dvd e vai direto para minha rica dvdteca.


"Dei mesmo nas areias do Xingu. Meu cu rasgô."

A loucura invadiu meu coração. E minha conta bancária também. Decidi hoje. Já comprei as passagens. Nesta sexta-feira, às 19h, estarei lindo na casa dos meus pais em Altamira - a capital da Transamazônica. Porque mais do que dinheiro, eu tenho muita é coragem, sabe, pessoal! Se minha conta está arrombada? Menino... para estar fudida, ela deveria estar um pouco melhor!

Já avisei minha querida mãe do meu coração para que faça a famosa muqueca de tucunaré ao leite da castanha (do Pará). O pirão com tucupí também foi encomendado. Agora, dá liçença que eu preciso ir ao shopping fazer compras. Tenho de estar muito phynno na Amazônia, porra!


Minha casa não foi focalizada na imagem. E foi trevas. Mas trago fotos para vocês depois.

Prometo atualizar o blog de lá. Vou fazer um diário de viagem tipo Zeca Camargo. Mentira. Não farei essa veadagem, mas darei notícias.

Meu pinto grande para os Pet Shop Boys mesmo. Vou levar meu cd.