quarta-feira, 3 de agosto de 2005

MATOU A FAMÍLIA E LIGOU A TV

O relógio marca 21h30 do dia 3 de agosto de 2025. O silêncio da casa de três dormitórios na favela da Rocinha, na capital carioca, fora interrompido pelo som da água que escorre da torneira. Ao fundo também se ouve soluços abafados. Evelize Lopes de Oliveira, de 22 anos, aspirante a atriz e manequim, lava suas mão sujas de sangue. Às lagrimas, seu sorriso nervoso no reflexo do espelho denuncia missão cumprida.

As manchas de sangue estampam sua camiseta das Casas Bahia. Mais respingos atingem sua saia plissada e as correias de seu chinelo havaianas. Em silêncio, Evelize cruza o corredor e tropeça nos corpos dos pais, que ainda estão na sala. Esfrega o nariz, faz um rabo de cavalo, liga a tv e senta no sofá. Ao fundo, se ouve a sirene da polícia.

Como numa alucinação, Evelize revê flashes de sua vida enquanto os reflexos da tv iluminam seu rosto com maquiagem borrada. A vida da faxineira havia mudado após uma gravação no programa “Tarde Ainda Quente” do jurássico João Kleber. A faxineira havia sido convidada pra que seus pais revelassem um “terrível segredo” na atração. A notícia é arrebatadora: o ator Marcello Anthony poderia ter sido seu pai !

Os pais biológicos da menina, o ambulante Jorge Teixeira Lopes e a sua mulher, a cabeleireira Dea Fernandes de Oliveira, haviam deixado, há 20 anos, Evelize num orfanato quando ela tinha apenas um ano e meio. O casal estava desempregado e a família vivia de vendas de picolés nas praias cariocas. Foi quando Anthony adotou a criança.

Três meses depois, o casal entrou na Justiça para reaver a guarda da então criança. E conseguiu. Evelize saiu de um condomínio de luxo e voltou pra favela. Sempre viveu sem saber de nada.

O programa deu picos de 13 pontos, recorde do horário para a Errei de TV!. Evelize pega o ônibus arrasada. Quantos sonhos foram destruídos... Ela poderia ter sido uma global, estar entre as celebridades, ralar o rabo em postes paulistas, dançar “Porque a porra da buceta é minha” com a Carol... mas não.

Revoltada, a estudante fica calada por alguns dias. Na segunda-feira, três dias após a gravação, ela agarra uma faca na cozinha e, louca da calcinha, mata seus pais. Senta diante da tv, liga na novela e chora ao ver a imagem daquele que poderia ter sido seu pai. “Ele é maconheiro mas é jóia”, pensou.

*Post dedicado ao / ** valeu Joãozinho :)