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São 7h da manhã. O sol reflete nos óculos escuros. Um flyer faz as vezes de trompete. Pulos. Passinhos. Sorrisos. A cachaça já havia levado minha dignidade. Aguardo o carro para voltar para casa. Na fila, uma diva ao meu lado, assim como diversos outros zumbis. Creiço é sempre desagradável:

- Você acabou de voltar de Milano, né?

[sorriso contido se mistura com uma cara de ventilador – nariz pra cima, virando a cabeça de um lado para o outro; jogando o cabelo artificial.]

– É necessário, neammm, meu bem.

- Bonita você. E esses óculos aee?

[séria]

- É Valentino. Tô toda de Valentino. Da cabeça aos pés. Só a bolsa que é Dolce & Gabanna.

- Mas desse jeito você humilha as pessoas. Eu, por exemplo, agora fiquei constrangido. Não tenho nem roupa para ficar ao seu lado nesta fila.

- A vida é assim, queridommm... [esconde as mãos com vitiligo]

- Sua calcinha é Victoria’s Secret?

[séria]

- Não.

- Aaaaaaaah... decepção! Agora você acabou com toda sua fantasia “Daslu 12 vezes sem juros”.