COMO IRRITAR EM CINCO JARGÕES

Desabafar é tudo de bom, com certeza

O primeiro suspiro de desprezo pode surgir com a primeira frase. É decisivo para investir certa troca cultural ou lhe tratar como se você fosse o “café com leite” em meio a certas arapucas do destino. É cruel. Dói. Arde. Trata-se de um desabafo contra certos jargões no vocabulário de gente vazia. E com azia; vejamos:

Com certeza: sua reputação se resume a antes ou depois de pronunciar este câncer de programas de auditório. Passa de um “pode ser” para um “não é mais”. Instantaneamente. Demonstra falta de argumento. È um apelo pobre e tão vazio quanto brilho labial na boca da síndica do meu condomínio.

- Renan Calheiros é acusado de usar recursos da construtora Mendes Júnior para pagar despesas pessoais, um absurdo, né?!

- Com certeza.

- Se ele continuar como presidente do senado vai documentar o óbvio, o que sempre esteve desmoralizado...

- Com certeza.

- Minha filha me pediu uma bota igual à da Bebel, da novela. Comprei uma pra mim também. Ficou linda, né!?

-Com certeza!

Sujeito pessoas: “bom dia, pessoas”. “Vamos lá, pessoas”. “Vão tomar no cu, pessoas”. Eu nunca dei boa tarde a cachorro, mucura, saci ou qualquer outro ser que não saiba falar português. É chato. Uma tentativa frustrada de novas palavras de apoio em workshop de periferia. Prendam essas pessoas!

Fui: e não volte nunca mais!!! Nenhum cover do Eri Johnson merece qualquer atenção. A expressão já tem cara de passada, de novela ruim. É só ouvir que fico com Gloria Perez’s Eyes. Um colírio de misericórdia, por favor.

Já é: como é que é Rhayanne Jhéssica Duque de Caxias? Já é tendência na comunidade? “No churrasco com as colega?” Já é a intenção de ser moderna e sapeca. Já é o bordão com sotaque de assalto. Já é a noção no Brasil! Que fique lá no Rio.

Tudo de bom: uma galera jovem reunida. Celulares ao pé duvido. Chat, Chat, Chat, Chat Line!!! È muita azaração, mermão! “Eu amo curtir a vida e meus amigos, mas detesto falsidade”. “Tudo de bom” é que nem a Luana Piovani: soa bonitinho, mas a gente sabe que não presta.