terça-feira, 12 de outubro de 2004

Cinema

Olga: entre erros e acertos, filme convence mas não empolga

Minha expectativa para o filme Olga, adaptação cinematográfica da obra homônima do escritor Fernando Morais, era grande desde que li o livro. Até a fita chegar ao cinema, foi um parto. O projeto passeou por várias produtoras, patrocinadores.
A revista Bravo, certa vez, deu sua capa para a atriz Patrícia Pillar anunciando-a como a protagonista da trama. Problemas com arrecadação de recursos e no roteiro, que não saía nunca, atrasaram o filme. Patrícia teve problemas com câncer, a campanha do marido Ciro Gomes à presidência da República e acabou desistindo da produção. E lá se foi Olga para a gaveta.

Há três anos, o diretor de novelas Jayme Monjardim assumiu as rédeas da produção. Contratou equipe (a maioria retirados da técnica da Tv Globo) e deu o papel para sua nova protegida: a atriz Camila Morgado (A Casa das Sete Mulheres).

"Caralho, tô presa. Tô fudida, porra!"
Olga fez bonito nos cinemas. Pelo menos na bilheteria. O filme é audacioso. Fotografia excelente, figurino, locações, direção bem resolvida (discordo que pareça novela, conforme comentam). Mas a fita esbarra em dois problemas cruciais: a protagonista e o roteiro.

Camila Morgado saiu do teatro, passeou pela tv e encarou o papel. Sua atuação está muito teatral, forçada, masculinizada. Disseram que Olga tinha uma rola entre as pernas e ela acreditou. Tudo bem que a personagem revolucionária não era nenhuma dama, mas Camila ... ora, por favor!

Há certos momentos em que você quer rir. Olhos esbugalhados, voz impostada e lá se vai ela... gritos e mais gritos. Lágrimas.
"Puta merda. Tive de raspar meu cabelo. Minha racha rosa e peluda mesmo!"
O roteiro da tia Rita Buzzar (que também assina como produtora) não ajuda. Não há um envolvimento com a causa de Olga. Ela quer salvar o mundo e pronto. Seus medos e desesperos adolescentes são poucos explorados. As origens de suas virtudes e anseios são ofuscados por uma trama quer mostrar tudo, mas que na verdade pouco apresenta. Tudo envolto pelo manto do Brasil da era Vargas. Há de se frisar o trabalho de Caco Ciocler e Oton Bastos. Ótimos como sempre.

Entre erros e acertos, o diretor se justifica: “Fiz um filme para a massa. Não quero ganhar nenhum Oscar”. Sei. E não vai ganhar mesmo.

"Seu cu !"